Sobre os escritos de Sir William.
- Márcia Montenegro
- 19 de fev. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de fev. de 2020

"Sir William orgulhava-se de ser o guardião de escritos antigos, alguns proscritos pelas autoridades eclesiásticas, outros de existência desconhecida até para iniciados. Ele os mantinha guardados em absoluta discrição, trancados em baús de cedro, totalmente encobertos de olhares curiosos. Dedicava-se à tarefa de estudá-los, comentá-los e traduzi-los como um copista solitário. Mantinha a sete chaves uma valiosíssima cópia da Septuaginta, trechos das Confissões de Santo Agostinho, discursos de Anselmo, o arcebispo de Canterbury (que carinhosamente batizara de o mais fervoroso defensor da existência de Deus) e escritos que presumia se tratar de textos de Averróis, embora, sobre isto não houvesse absoluta certeza.
Edgar tinha grande participação no aumento da coletânea, adquirindo e negociando alguns dos mais valiosos itens, além de objetos de arte, com mercadores que chegavam de todas as partes do mundo em embarcações pelo estreito de Dover. O mais recente estava ali, trazido de Veneza e fixado na parede acima da cadeira do pai, um painel em ouro de um ícone com a figura em relevo do arcanjo Miguel, de couraça e espada e, ao redor, insculpidas na moldura, figuras esmaltadas de santos guerreiros. Uma peça de extrema beleza e grande valor.
Leonor não percebia o passar das horas quando recolhida naquele pequeno santuário de arte e saber, e de todos os escritos, eram os do teólogo Abelardo que mais chamavam sua atenção. Em parte devido à trágica história do romance proibido com a bela Heloísa, que resultara na ordem dada pelo cônego Fulbert, tio da dama desonrada, para castrá-lo , e, em parte, pelo fato de Abelardo defender, dentre outras, a ideia de que palavras não são meras ocorrências, mas realidades detentoras de significado. O seu alcance e poder destrutivo eram atributos que Leonor conhecia muito bem."
Trecho da obra "A Rosa Silvestre".
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